Ouça a entrevista na íntegra com Milton Guedes:

Em tempos de overdose digital, o cantor, compositor e multi-instrumentista Milton Guedes está na contramão do algoritmo. Ele lança, nesta sexta-feira (6), o single “Desligue a TV”, uma balada pop que mistura manifesto, abraço e alerta. A faixa marca o início de uma nova fase em sua carreira, que completa 40 anos, e abre caminho para um EP com seis canções inéditas a serem lançadas nos próximos meses.

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Foto: Marcos Vieira/Divulgação.

A composição, assinada por Paulo Veríssimo, chamou a atenção de Milton desde a primeira audição.

“Desde que eu ouvi essa música ela mexeu comigo, a letra, a parte instrumental, uma música pop, que eu gosto muito”

conta Milton Guedes.

Mais que uma melodia cativante, a canção traz uma crítica bem-humorada e afetuosa ao excesso de distrações digitais e à superficialidade dos relacionamentos mediados por telas: “Desligue a TV, e antes que eu me esqueça, quem é você?”.

Para Milton, a pandemia acentuou hábitos que afastam as pessoas, mesmo quando estão próximas fisicamente.

“Eu acho que a pandemia foi o limite. A gente saiu dela e manteve muitos padrões ainda. Isso tomou uma proporção que hoje a gente está na luta para melhorar o uso de tela e tudo”

diz.

Produção em família

O novo trabalho tem um sabor especial: foi produzido por seu filho, Rudah Guedes, que também assina os arranjos.

“Dessa vez eu falei: se ele falar ‘muda isso aqui’, eu vou mudar. Era nada mais, nada menos que um dos caras que mais me conhece nessa vida, que é meu filho”

afirma Milton, orgulhoso da parceria e da conexão familiar que permeia a canção.

Ouça a nova música de Milton Guedes:

Reencontro com o palco e com a voz

Apesar de ser conhecido por seu talento como instrumentista — tocando ao lado de nomes como Lulu Santos, Roupa Nova e Sandy & Junior —, Milton nunca deixou o canto de lado. Inclusive, foi cantando que ele começou a trajetória na música.

“Eu comecei uma carreira como cantor. Eu nem tocava instrumentos ainda, cantava em corais. Aí depois eu tive uma banda em Brasília. Eu sou carioca, mas eu cresci lá. Então toda a minha formação musical foi ali. Essa banda, éramos cantores. Eu só tocava flauta. Eu acho que aí a coisa do instrumento, já que todos na banda tocavam algum instrumento de corda e tal, eu acabei optando pra tocar instrumento de sopro. O canto sempre me acompanhou, sempre, desde que o Oswaldo Montenegro me achou lá em Brasília, me levou pro Rio, eu já tocando saxofone, flauta, gaita, mas eu sempre cantei, ele me botava pra cantar também nas peças de teatro e tudo, então o canto sempre me acompanhou”.

comenta Milton.

Nos últimos 15 anos, ele tem investido em sua carreira solo, equilibrando com participações especiais em shows de artistas conhecidos. Os mais recentes foram NX Zero e Fresno.

“O que mudou foi assumir que eu posso ter o meu trabalho e fazer as outras coisas. Ao contrário do que eu fazia, eu tocava com os outros e eventualmente fazia o meu. Agora eu troquei”

explica o cantor.
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Foto: Reprodução/YouTube.

Mudança de hábito

Com 40 anos de carreira e muitos palcos Brasil afora (e até fora do país), Milton Guedes também sabe bem como funciona o mercado da indústria musical. Com bom humor, ele comenta também sobre os desafios de se destacar nessa indústria atualmente.

“É uma coisa que não acontece só hoje. Sempre teve um nicho, uma música que toca mais no rádio. Desde a época dos anos 90, reclamavam que só tocava pagode no rádio, o pagode mais popular. Depois reclamavam que só tocava rock n roll, só tocava o rock Brasil. Então sempre teve os nichos, sertanejo. É claro que existem os ritmos populares que estão no topo da cadeia”

reflete Milton Guedes.

Apesar disso, Milton também destaca que a mudança de hábito deve partir de nós mesmos, consumidores de música.

“O que eu acho que falta é a galera parar de reclamar um pouco também e fuçar um pouquinho porque tem muita gente boa lançando música sabe. Elas estão por ali, é claro que o espaço é menor. Hoje em dia são milhares e milhares de músicas lançadas por hora nas plataformas. É difícil mesmo chegar em algum lugar, mas se você der uma procuradinha, eu tenho certeza que essas músicas estão lá”

comenta.

Milton também comenta sobre os desafios da música independente no cenário atual, onde milhares de faixas são lançadas por hora nas plataformas digitais e a concorrência com os artistas do mainstream é desleal.

“Não dá pra competir mesmo com quem é mainstream, quem tem muito dinheiro pra fazer uma divulgação. Mas aí também a gente não pode ser injusto, porque sempre foi assim”

diz.
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Foto: Marcos Vieira/Divulgação.

Carinho por Curitiba

E quando o assunto é Curitiba, Milton abre um sorriso. A cidade tem um lugar especial em sua trajetória artística. Foi lá que ele teve a primeira resposta de sucesso com o hit “Sonho de uma Noite de Verão”.

“Curitiba tem um histórico assim… Todo mundo fala isso no Brasil, desde a minha época lá, dos anos 90: se o público de Curitiba te aplaudir, pode ter certeza que vai rolar no resto do Brasil. […] Foi o primeiro lugar que eu fui divulgar. Me lembro, num shopping em Curitiba, uma fila gigantesca de gente pedindo autógrafo. Foi muito legal. E não deu outra. ‘Sonho de uma Noite de Verão’ estourou muito no Brasil”.

Segundo o cantor, a ideia é se apresentar logo em Curitiba. Ele até adiantou que já tem conversas sendo feitas.