Mesmo em dias atuais, ainda é difícil para alguns setores da sociedade, principalmente os que envolvem a fé, aceitarem as pessoas de orientações sexuais que não as ditas “comuns” por eles mesmos (heterossexuais). Imagine como seria para alguém que pensa, sente e ama diferente desses padrões “tradicionais”, conviver por anos nesse meio, calado, por medo de julgamento e a culpa que carregava por ser quem é.
Foi essa a vida que o paranaense Gil Monteiro, cantor cristão com mais de 2 milhões de players na maior plataforma de áudio só em 2023, teve de se sujeitar até que, em junho de 2022, se assumisse gay perante sua família, amigos e sociedade. Ele conta toda essa trajetória em um livro, que foi lançado recentemente.
Gil Monteiro é natural de Rio Branco do Sul, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC), mas hoje reside na grande São Paulo. Na música, já conta com três discos lançados e um misto de canções que vão do pop rock ao folk, acumulando mais de 24 milhões de visualizações em seu canal no youtube e perto de 100 mil seguidores em suas redes sociais e plataformas de streaming.
Em 2022, ele resolveu “sair do armário” e abraçar de vez a luta pela bandeira do amor, da transformação da vergonha em orgulho. Isso tudo se transformou em um livro, que só pelo nome já podemos entender a história: ““Será que ele é?”.
No livro, Gil Monteiro tem a chance de apresentar essa caminhada e contar detalhadamente como vive e como se sente uma pessoa que não via outro caminho senão trancar-se no armário. A obra conta com prefácio do ator Carmo Dalla Vecchia, amigo de Gil.
“Escrever esse livro gerou uma mistura de sentimentos. Revisitar essas partes da minha história foi terapêutico porque me ajudou a ver por outro ângulo os fatos e ressignificar o impacto em quem sou hoje. Me fez enxergar ainda mais forte como os armários da sociedade e religião podem abafar uma vida, independentemente da idade. Mas também me mostrou a evolução da trajetória, um caminho pra se orgulhar!”
comenta Gil Monteiro, músico, engenheiro e, agora, escritor.
Em “Será que ele é?”, além de compartilhar sua trajetória dentro da igreja católica, onde constituiu sólida carreira como cantor e compositor, Gil fala também sobre a invisibilidade que muitos LGBT’s que frequentam espaços religiosos precisam vestir para sobreviver nesses ambientes que condenam vivências homoafetivas como “pecado”.
Seja nos eventos e shows religiosos que participava, ou nas obras de construção que gerenciava (Gil também é engenheiro civil), o questionamento sobre sua sexualidade nunca o deixou, até a chegada de junho de 2022, mês do orgulho LGBTQIAP+, quando Gil resolveu tornar pública a sua orientação sexual e o seu casamento homoafetivo.
O episódio ganhou repercussão nacional, porém não impediu o lançamento de mais um álbum do artista com canções sobre a temática gay e sua presença nos meios conservadores do mundo cristão e da engenharia. Assim, entre haters e cancelamentos, o inesperado: uma oportunidade para construir diálogos e pontes apareceu.
As páginas de “Será que ele é?” são um convite ao leitor para conhecer mais da história de Gil Monteiro. Sua leitura também é uma forma de convite de todos ao reconhecimento humano e fraterno daqueles que não se enquadram, por suas formas de amar e identidades de gênero, no padrão imposto pela sociedade e pela religião.
“Espero que o leitor tenha empatia, que calce os meus sapatos pra pisar dentro dessa realidade que fica escondida no armário e no coração de tanta gente que a por algo parecido. Aos heterossexuais, desejo que a leitura desperte a capacidade de diálogo, mudança de mentalidade e comprometimento em ser um aliado às pessoas LGBT’s mais próximas. Às pessoas LGBT’s espero que a obra gere identificação e esperança de vencer qualquer armário e ser sinal de amor, vida e diversidade na sociedade”
finaliza Gil Monteiro.
