
Mano Cappu escancara a necropolítica brasileira com a potente “Igreja Branca“, faixa com produção de Mano Galax que, integra o aguardado “UFA“, seu álbum de estreia previsto para este ano. O artista com mais de 100 mil players no canal oficial do YouTube, conversou com exclusividade com o jornalista Lucas Cabaña e falou ao Música é o Canal, sobre as sensações do processo de produção do novo clipe, onde além de a composição, é o responsável pelo roteiro.
Religião, armas, corrupção e uma indagação latente sobre a liberdade em tempos de cárceres sociais e digitais. “Igreja Branca” é um reflexo musical e audiovisual assertivo sobre a distopia religiosa e política nacional. Mas também, ecoa ao âmago social, principalmente para quem vive à margem da doutrinação.
“Eu acho interessante você trazer um senso crítico saudável para refletir e entender o que está acontecendo com as religiões deste país. Todas elas têm a polarização de valores. Nós que estamos na periferia e somos o elo mais fraco desta corrente, temos que nos fortalecer trazendo consciência pela arte. Já que o Estado não faz esse papel”, reflete o multiartista Manu Cappo.

Porém, das próprias mazelas, o artista fez de uma das injustiças da sua trajetória, um dos capítulos mais importantes da sua história. Preso injustamente há dez anos, durante 18 meses, por um crime que não cometeu e absolvido pelo júri popular, as rimas de Manu Cappu são um reflexo de quem é cria da periferia e está fadado aos estereótipos sociais e culturais para sobreviver diariamente.

“Você ter uma agem já te faz ex-presidiário pra sempre, parafraseando o Mano Brown. Se não fosse a arte, eu não sei onde eu estaria. Ela me salvou. Eu sou multiartista e transformo as minhas ideias para o mundo. Eu não quero dizer o que está certo ou errado. A gente precisa refletir. Minha arma é um papel e uma caneta, é onde eu trabalho, é isso que eu quero fazer”, enaltece o compositor e roteirista.
Igreja Branca

Entre as curiosidades do clipe, Mano Cappu revelou que o projeto de construção de “Igreja Branca” foi realizado em cinco meses. E embora o rapper tenha a sua relação com as artes cênicas, ele abriu mão de estar em tela e convidou a ativista Telma Mello e o ator Sávio Malheiros.

Em entrevista, segundo Mano Cappo, a parceria com Thiago Daher, diretor e produtor paranaense, responsável pela direção de “Igreja Branca” foi fundamental para toda a criação audiovisual.
“Foram cinco meses de construção deste projeto. Eu já tinha ele em mente. E com a parceria do Thiago Daher na direção, ele possibilitou todo o desenvolvimento. Eu busquei algumas referências cênicas, como o clipe ‘DNA.’ do Kendrick Lamar e, quando eu assisti a um clipe da Mulamba, eu pensei na estética minimalista”, revela.

Ainda, segundo Mano Cappu, o artista quer ir além das paredes da “Igreja Branca”, e possibilitar uma discussão ampla das amarras necropolíticas.
“É tempo de discutir religião e política. Chega. Não dá mais para varrer toda essa sujeira para debaixo do tapete. Porque, eu, homem negro, morador de periferia, sobrevivente do cárcere sei muito bem quais os corpos as balas ungidas irão acertar“, evoca o multiartista