Exatos dois dias antes de morrer dentro da escola onde atuava, em Curitiba, a professora Rosane Maria Bobato compartilhou em uma rede social um vídeo que criticava as pressões e o adoecimento da categoria. A publicação foi feita na terça-feira (3), após a morte da também professora Silvaneide Monteiro Andrade, de 56 anos, que sofreu um infarto em outro colégio estadual da capital.

O vídeo, que tem quase três minutos de duração, foi gravado pelo jornalista, educador e comediante Diogo Almeida, além de ter sido compartilhado inicialmente em uma rede social que reúne mais de 2,6 milhões de seguidores.
“Eu vou te contar uma coisa que eles não querem que você saiba: ‘Os professores estão morrendo'”, diz Almeida antes de citar o falecimento da professora de Língua Portuguesa Silvaneide Monteiro Andrade, registrada no último dia 30, em um colégio cívico-militar de Curitiba. Ela sofreu um infarto.
No vídeo compartilhado por Rosane Maria Bobato, a morte da colega, Silvaneide Monteiro, é comentada pelo jornalista. “Esse caso aparentemente isolado reflete o que está acontecendo na educação brasileira. Os professores estão morrendo. Ser professor virou sinônimo de periculosidade. Ser professor virou sinônimo de insalubridade”, argumenta Diogo Almeida, que questiona se vale a pena “arriscar a vida por tão pouco” e por “um salário tão baixo”.
A legenda atrelada ao vídeo compartilhado pela professora diz que a classe está “vivendo o luto da profissão” e critica o “sistema que negligencia seus profissionais mais essenciais”. “O que mais precisa acontecer para que esse grito seja finalmente ouvido?”, finaliza o texto.

Segundo caso em uma semana
A morte de Rosane Maria Bobato em decorrência de um mal súbito foi a segunda registrada em menos de uma semana em instituição de ensino da rede estadual, em Curitiba. A primeira aconteceu no último dia 30, quando Silvaneide Monteiro Andrade, de 56 anos, sofreu um infarto no Colégio Estadual Cívico-Militar Jayme Canet, no bairro Xaxim.
Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná (APP-Sindicato), Silvaneide estava dando aula quando foi chamada à sala da equipe pedagógica, onde enfartou. Ela chegou a ser socorrida, mas não resistiu e morreu na instituição.

“É uma tragédia. Mais uma professora que faleceu neste modelo de educação que acaba pressionando, vigiando. Então, a APP está aqui prestando solidariedade e apoio aos estudantes, professores, funcionários e à família da professora, porque lutamos para que a escola seja um ambiente saudável, seguro, e não um ambiente que leve uma professora a uma situação como essa”, lamentou o Secretário-Geral da APP-Sindicato, Celso José dos Santos, sobre a morte de Silvaneide.
Já Rosane Maria Bobato morreu após ar mal dentro de uma sala de aula, nesta quinta-feira (5), no Colégio Estadual Santa Gemma Galgani, no bairro Abranches, em Curitiba. Segundo a APP-Sindicato, Rosane se sentiu mal em sala de aula, foi para a coordenação, onde foi acolhida, mas morreu em seguida.
A entidade informou que esteve na instituição para entender as circunstâncias do ocorrido e prestar apoio e solidariedade à comunidade escolar e à família da docente.
O que diz a Secretaria da Educação
Em nota, a Secretaria Estadual de Educação do Paraná (Seed-PR) lamentou a morte das duas professoras e afirmou que ambas chegaram a ser atendidas nas escolas, mas acabaram não resistindo. A pasta destacou ainda que está prestando e às famílias das servidoras.
Sobre a morte de Silvaneide, a pasta destacou que ela não foi chamada para uma reunião para ser repreendida. No dia do ocorrido, uma técnica pedagógica do Núcleo Regional de Educação (NRE) teria comparecido à escola para realizar acompanhamento e oferecer e a uma outra professora da unidade.
“A Seed-PR encaminhou uma equipe de apoio psicológico à escola para oferecer e a estudantes, professores e servidores. A comunidade escolar está de luto. A Polícia Científica do Paraná vai investigar as circunstâncias. Qualquer informação sobre as causas da morte antes da conclusão do laudo é temerária”, diz trecho do comunicado.
Em relação ao falecimento de Rosane, além de lamentar o ocorrido, a secretaria afirmou que vai reforçar o programa Bem Cuidar, que busca oferecer atendimento psicológico aos docentes.