Por todo o ano de 2024, o Coritiba esteve refém de uma situação – a utilização ou não de Alef Manga. Da reapresentação até praticamente o final da temporada, o atacante protagonizou a rotina coxa, numa espécie de prova cabal da falta de rumo do clube sob comando da Treecorp. A trajetória do atleta, desde o momento em que aceitou receber dinheiro para tomar um cartão amarelo até a dispensa sem agradecimentos da semana ada, mostra a quantidade absurda de trapalhadas cometidas pela diretoria da SAF.
Em momento algum o Coritiba soube lidar com a situação de Alef Manga. Certamente sem perceber, o jogador foi usado em todos os momentos. Numa primeira fase, ele foi um marionete do então CEO Carlos Amodeo. Criticado pela torcida desde o rebaixamento de 2023, ele começou 2024 falando sobre o atacante. “Por que um atleta profissional, como é o caso do Manga, não mereceria uma segunda chance">
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Ele tinha sob este “guarda-chuva”, além dos torcedores que imaginavam que Alef Manga poderia salvar (o termo é esse mesmo) o Coritiba, influenciadores e os representantes do atleta. Carlos Amodeo praticamente prometeu o retorno antecipado de Manga para o final da primeira fase do Paranaense e depois para o início da Segundona. “Ele será, sim, um reforço importante e nos ajudará na Série B”, afirmou em 15 de março. Neste momento, os advogados do Coxa já tinham o posicionamento – impopular – de que seria quase impossível o retorno dele antes do final da pena.
A fase da guerra
Suspenso por 360 dias por ter participado do esquema de manipulação de jogos do Campeonato Brasileiro, Alef Manga treinava em uma academia, pois estava impedido de estar nas dependências do clube. “Nessa preparação, o Coritiba deixou muito a desejar“, disse o jogador em entrevista ao UmDois Esportes. Enquanto isto, o então CEO seguia batendo na tecla da liberação antecipada. “O Amodeo foi um cara super importante, que sempre me defendeu, me ajudou, desde a reativação do meu contrato”, afirmou Manga na mesma entrevista – ele voltou a ter os salários pagos em fevereiro.
Neste momento entram três personagens. De um lado, o então diretor de futebol Paulo Autuori e o executivo William Thomas. De outro, o performático advogado Jeffrey Chiquini. Numa ação que pareceu intempestiva, mas veio a calhar para Amodeo, o advogado soltou os cachorros na rede social, atacando especialmente William Thomas. A intenção era tentar preservar uma possível relação com Autuori, mesmo que fosse claro que ele não quisesse manter Alef Manga no Coritiba.
A tática praticamente suicida de Jeffrey Chiquini, que em determinado momento deu a sensação de estar mais interessado em aparecer do que defender Alef Manga, provocou uma série de acontecimentos. Caiu Amodeo, caiu Autuori, parte do elenco não itiu a postura do jogador (que, apesar de dizer que “não podia fazer nada”, autorizava a gritaria de seu advogado, replicada nas redes sociais), o time entrou no pior momento da temporada e o Coritiba ainda ou por dois constrangimentos no Superior Tribunal de Justiça Desportiva, quando os representantes de Manga pediram a antecipação do final da pena.
Apoiando a postura dos advogados, o novo (e atual) CEO do Coritiba, Gabriel Lima, deixou a punição terminar no dia certo. Alef Manga, oficialmente sem Chiquini, seguia ‘causando’ nas redes sociais, até se escalando sem ainda nem ter voltado a treinar com o elenco. Atitudes como essa minaram a relação com parte do elenco. E foi essa rejeição que faz Jorginho atirar forte contra o atacante em uma entrevista coletiva. “O Manga precisa se desculpar pelo que aconteceu, porque isso é desvio de caráter. É muito sério. Você imagina, ele volta para o grupo e o que os jogadores vão pensar">disse o então treinador em 18 de setembro.
Falta de convicção
Mas o treinador também foi tragado pela falta de convicção que permeia a conduta do Coritiba no caso. Após mais uma derrota na Série B, o que era crítica virou elogio e Jorginho ou a contar com Alef Manga. A razão era a mesma que levava Amodeo a se blindar das críticas, os torcedores a cobrarem o retorno e Chiquini a dar um show nas redes sociais – havia uma crença de que a volta do atacante poderia provocar uma arrancada do Coxa na Segundona. Era a capacidade técnica do jogador que virava uma espécie de elixir para todos os males.
Só que não havia clima para Alef Manga no Coritiba. A péssima gestão do caso pela Treecorp desde maio de 2023 rachou a diretoria, rachou a torcida e rachou o elenco. Usado por cartolas, arrivistas, influenciadores e empresários, o atacante fez apenas quatro jogos e marcou um gol no seu breve retorno. “(Quero) Pedir desculpa ao torcedor se alguma forma eu fiz algo que deixou eles chateados”, disse em entrevista ao ge. Voltar ao Coxa? “Eu penso em voltar para a cidade de Curitiba. Se eu voltar para o Coritiba ou para outro clube, eu não sei”, desconversou, no último ato de uma triste história.
Alef Manga era ídolo da torcida, mas foi usado por dirigentes, empresários e advogados nos últimos 18 meses. Foto: Arquivo