Depois de ar cinco dias detido pela imigração americana, o estudante Marcelo Gomes, 18, foi solto nesta quinta-feira (5) após a primeira audiência com um juiz no estado. Em entrevista a jornalistas depois da soltura, ele relatou que esteve em condições precárias num centro de detenção da imigração em Burlington, no estado de Massachusetts.

“Eu não quero chorar, mas quero dizer que esse lugar não é bom. Desde que cheguei lá, fiquei algemado. Eles me colocaram no subsolo, e eu fiquei em uma sala com um monte de homens. Essas salas eram pequenas em comparação com a quantidade de homens. Tinha cerca de 40 naquela sala”, disse.

Aluno do terceiro ano do ensino médio da Milford High School, ele foi detido por agentes da imigração no último sábado (31) a caminho de um treino de vôlei.

Estudante brasileiro denuncia maus-tratos após ser preso pela imigração nos EUA: 'Não tomo banho há seis dias'
Marcelo Gomes, de 18 anos, estudante do ensino médio de Massachusetts, foi detido pela imigração dos EUA no fim de semana – Foto: Reproduçao/CBS News

“A gente mal recebia atenção das pessoas que trabalhavam lá. Era muito difícil. Eu não tomo banho há seis dias. Não fiz nada. A única coisa que eu podia fazer era agradecer a Deus todos os dias, porque era só isso que eu fazia. Eu rezava lá”, disse.

O pai dele, João Paulo Gomes Pereira, já havia dito à Folha de S.Paulo que o rapaz estava em situação crítica no centro de detenção. Marcelo foi libertado depois do pagamento de uma fiança de US$ 2.000, mas ainda enfrentará um processo de deportação por ter sido pego em situação irregular nos EUA.

A audiência desta quinta foi com um juiz de imigração. Centenas de colegas de Marcelo se aglomeraram ao redor do local onde ocorreu a audiência para protestar por sua soltura.

Os pais de Marcelo não foram ao local por receio. Ambos estão em situação irregular nos EUA e dizem estar com medo de também serem presos pela imigração. Os dois afirmam estar sem sair de casa desde sábado. No período, o pai de Marcelo disse que ficou sem chão.

A advogada do estudante, Robin Nice, disse a jornalistas que foi uma vitória, mas parcial, “porque ele não deveria ter sido detido em primeiro lugar.” Agora, ela diz que buscará asilo ao rapaz, que chegou aos EUA aos seis anos com os pais. Ela afirmou ainda que, na quarta-feira (4), Marcelo foi ao hospital porque estava preocupado com uma possível concussão sofrida antes de ser detido.

A governadora de Massachusetts, a democrata Maura Healey, divulgou uma nota sobre o caso. “Estou aliviada por saber que Marcelo voltará para casa com seus pais, irmãos, colegas de classe e para a comunidade de Milford. Este foi um momento muito traumático para essa comunidade, e espero que encontrem algum conforto em saber que o estado de direito e o devido processo legal ainda prevalecem.”

Segundo Healey, “não é aceitável que estudantes em todo o estado tenham medo de ir à escola ou ao treino de esportes, e que pais precisem se perguntar se seus filhos voltarão para casa no fim do dia”.

O pai de Marcelo relatou à reportagem que a governadora telefonou para a família na quarta oferecendo assistência. O consulado do Brasil em Boston também se colocou à disposição para ajudar com gastos financeiros e jurídicos.

Marcelo mora nos EUA com os pais e os dois irmãos mais novos, de 7 e 9 anos, nascidos em solo americano. A família mudou-se há 12 anos; segundo o pai, a viagem ocorreu, a princípio, para visitar parentes residentes no país. Alguns meses depois, os pais conseguiram vistos de estudantes, mas, quando os documentos expiraram, eles optaram por permanecer nos EUA, mesmo em situação irregular.

A prisão de Marcelo faz parte de uma ofensiva de Donald Trump para promover a maior deportação de imigrantes em situação irregular da história dos EUA. Depois que o estudante foi detido, agentes da imigração afirmavam que buscavam na verdade o pai dele, que teria infrações por direção no estado. Pereira afirma, no entanto, que em momento algum os oficiais de imigração perguntaram dele ao filho.