Um dia depois de o presidente Donald Trump ter conversado com Vladimir Putin e anunciado a retomada de negociações para o fim da Guerra da Ucrânia, Kiev e seus aliados regionais colocaram nesta terça-feira (20) a intenção do russo em dúvida -e uma nova rodada de sanções contra Moscou foi tirada do forno pela União Europeia e pelo Reino Unido.

“É óbvio que a Rússia está tentando ganhar tempo para continuar a guerra e a ocupação. Estamos trabalhando com nossos parceiros para pressionar os russos a se comportar de outra maneira. As sanções importam”, disse o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, no Telegram.
Com efeito, a UE divulgou uma série de sanções que afetam principalmente a frota de petroleiros sem bandeira russa que transportam petróleo e derivados do país de Putin para outros mercados, como o Brasil -que pode ser afetado de forma secundária pelas punições comerciais.
Já Londres, que joga mais afinada com Bruxelas desde que Trump voltou ao poder em janeiro e buscou a aproximação com a Rússia, anunciou medidas contra empresas do setor financeiro e ligadas ao complexo militar de Moscou.
É incerto o impacto das medidas, dado que a Rússia já vem lidando com sanções draconianas desde que invadiu a Ucrânia, em fevereiro de 2022. Mas a coordenação entre UE e Reino Unido, que acabam de promover uma cúpula para remendar relações abaladas pela saída dos britânicos do bloco, é um sinal a Trump.
Os europeus elogiam o esforço do americano de colocar os rivais à mesa, mas desconfiam de que o presidente esteja sendo manipulado pelo Kremlin. “Nós vimos os ataques maciços da Rússia nos últimos dias. Eles falam mais alto do que o papo [de paz] que ouvimos até aqui”, disse o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius.
“Putin claramente está jogando por tempo. Infelizmente, temos de dizer que ele não está interessado de fato na paz”, completou, repetindo o raciocínio de Zelenski, durante encontro com seus pares em Bruxelas nesta terça.
A resistência é parte do jogo em curso. Kiev e europeus temem que ao fim Trump ceda às demandas de Putin, nominalmente a neutralidade ucraniana e a cessão final dos quatro territórios anexados ilegalmente por Moscou no vizinho em 2022.
Apesar de o republicano ter demonstrado impaciência com Putin nas últimas semanas, o fato é que a ameaça de seu governo até aqui é a de abandonar completamente o campo de batalha -sem ajuda americana, que praticamente equivaleu até aqui a tudo o que a Europa deu a Kiev na guerra e é a principal em termos militares, a situação se agravaria muito para Zelenski.
Assim, apesar do ceticismo generalizado e da falta da aceitação de um cessar-fogo imediato pelos russos, o processo não travou completamente. Os termos otimistas de Trump, claro, são apenas isso: o americano chegou a anunciar a retomada imediata de negociações e citou o Vaticano como provável campo para elas.
Pode ser que isso ocorra, mas o fato é que russos e ucranianos já retomaram as conversas diretas, ainda que sem resultado prático, na semana ada. Do lado da Casa Branca, Trump disse na segunda-feira (19) que não gostaria de aplicar novas sanções a Moscou, preferindo apostar no que vê como desejo de Putin de acabar com a guerra.
Em Moscou, a porta-voz da chancelaria, Maria Zakharova, criticou os ucranianos e europeus. Segundo ela, Kiev precisa responder se aceita discutir um memorando para a paz mesmo sem um cessar-fogo imediato, como Putin sugeriu na conversa da véspera com Trump.
Mais tarde, a premiê italiana, Giorgia Meloni, disse que o papa Leão 14 confirmou que o Vaticano está à disposição para os rivais se reunirem em eventuais negociações, como havia sido especulado por Trump na véspera.
Enquanto isso, os combates seguem de lado a lado. Nesta terça, Moscou incluiu no cardápio uma rotineira demonstração de força estratégica ante o Ocidente, fazendo uma patrulha com dois bombardeiros com capacidade de ataque nuclear Tu-95MS perto da Noruega, integrante da aliança militar Otan.