A Federação Nacional de Instalação e Manutenção de Infraestrutura de Redes de Telecomunicações e de Informática (Feninfra) – que representa mais de 100 mil empresas no País que fazem instalações de banda larga, telefone e TV – saiu a público na última sexta-feira, 27, se opondo à restrição de produtos chineses no mercado brasileiro de telecomunicações, o que seria extremamente custoso ao Brasil.
A manifestação ocorre em meio à inclinação do governo federal em restringir a participação da Huawei na implementação das redes 5G no Brasil. A iniciativa foi acompanhada no mesmo dia pela Conexis Brasil Digital, sindicato das operadoras, que reúne TIM, Claro, Vivo e Oi.

A presidente da Feninfra, Vivien Mello Suruagy, afirma que a manifestação veio após a entidade tentar, sem sucesso, reunião com representantes do governo federal para falar sobre o tema. E também aconteceu após a associação identificar, segundo ela, que “determinadas vozes” no alto escalão estão tentando se opor ao livre mercado sob uma justificativa não esclarecida de segurança cibernética.
“Nós acreditávamos que, com o ar do tempo, as pessoas não devidamente inteiradas ao assunto iriam perceber que o desenvolvimento das telecomunicações no Brasil tem se baseado no livre mercado e na busca por qualidade”, diz. Vivien.
Segundo a executiva, a associação se preocupa com os investimentos já feitos na qualificação de mão de obra para lidar com os equipamentos de redes, incluindo os da fabricante chinesa. E alerta que a restrição da Huawei, que tem até 50% de participação no mercado, geraria um custo enorme para a substituição das redes, com rees para os consumidores e atraso na difusão do 5G. Leia a entrevista a seguir:
Por que vocês estão se opondo a uma potencial restrição de equipamentos da Huawei no mercado brasileiro?
Há um debate sobre a proibição de produtos chineses devido à segurança nacional. Tal preocupação, contudo, deve ser aplicada a equipamentos vindos de quaisquer nações. E até aqui todos os fornecedores, independentemente da origem, têm comprovado serem fiéis aos requisitos de segurança nacional exigidos. É assim desde o 2G, o 3G, o 4G e temos condições técnicas para auditar e garantir que também seja no 5G.
Esse debate vem acontecendo há meses. Por que a oposição justamente agora?
Porque o leilão do 5G ainda estava afastado, mas agora está se aproximando. Nós acreditávamos que, com o ar do tempo, as pessoas não devidamente inteiradas sobre o assunto iriam perceber que o desenvolvimento das telecomunicações no Brasil tem se baseado no livre mercado e na busca por qualidade. Basta você olhar para os investimentos feitos pelo setor todos os anos, de dezenas de bilhões de reais. O problema é que determinadas vozes estão se manifestando contra o livre mercado, enquanto nós não tivemos a oportunidade, como setor, para dar um esclarecimento técnico.
Com quem a associação empresarial tentou falar no governo? E quem está se colocando contra a presença de fornecedores chineses?
Não vou dizer. Estamos procurando uma agenda oficialmente. As conversas informais não contam. Mas detectamos que realmente há pontos a esclarecer. As questões de segurança nacional nós entendemos que ficam por conta da cúpula presidencial. Mas, na parte técnica, queremos dar a nossa experiência.
E qual o posicionamento técnico?
A proibição a empresas não faz parte de uma economia de mercado nem do comércio global e certamente significaria aumento nos custos para o setor de telecomunicações, afetando toda a economia, num danoso efeito em cascata, das operadoras aos consumidores.
E como fica a garantia de segurança de dados do ponto de vista técnico?
Temos todas as condições técnicas para nos defender de ameaças. É possível monitorar e auditar aspectos ligados à segurança de dados. É assim desde a privatização da telefonia, há mais de duas décadas. Por que falar em veto agora?
Se o veto se confirmar, quais seriam as dificuldades e consequências com o banimento à Huawei?
Nós temos um modelo em que vai ser preciso usar as redes 4G para “conversar” com os componentes das novas redes 5G. Os equipamentos já em funcionamento vão servir de e aos novos Se tivermos um bloqueio da Huawei e for proibido usar o 5G dela, então o 4G chinês também não poderá continuar funcionando. Todas as redes vão precisar ser substituídas. E o custo para trocar tudo isso é exorbitante, porque a Huawei tem uma participação que chega a aproximadamente 50% do mercado como fornecedora de componentes para as operadoras.
Qual seria o custo para o mercado?
O Reino Unido está ando por isso. Lá, calcularam entre 4,5 bilhões e 6,8 bilhões de libras esterlinas os custos das restrições à Huawei (estudo realizado pela associação local de operadoras, a Mobile UK). Sem contar o atraso no desenvolvimento do 5G. E o Brasil tem área bem maior do que o Reino Unido e tem uma zona rural maior, onde o o é ainda mais difícil. Ainda estamos calculando os nossos números, mas a experiência internacional mostra que é custoso.
O que vocês vão pleitear com o governo? Qual a solução?
Muito mais importante e prudente do que restringir a competição é zelar pela qualidade do sistema e boas práticas, e exigir equipamentos importados legalmente e certificados pela Anatel. Também são fundamentais a qualidade da mão de obra e a garantia da segurança das redes.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.