Era por volta de 8h25 de segunda-feira (22) quando o jovem cearense Francisco Eraldo Oliveira Lima, de 23 anos, deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Cajuru com relatos de dor abdominal, febre, náuseas e dor de cabeça. Pouco mais de cinco horas depois, às 13h53, Francisco teve uma piora em seu quadro clínico e morreu devido a uma sepse, condição caracterizada pela resposta extrema a uma infecção e comprometimento do funcionamento de órgãos e sistemas.
Inicialmente, familiares do jovem suspeitaram que ele tivesse morrido por leptospirose, infecção causada pela bactéria Leptospira que pode ser transmitida de animais para humanos — principalmente por meio do contato com água ou solo contaminado com urina de animais infectados, como ratos, cães e outros mamíferos. Os exames, contudo, comprovaram dias depois que ele foi vítima de meningite meningocócica, uma das formas mais graves de meningite causada pela bactéria Neisseria meningitidis.
À Banda B, Umbilina Lima, tia do jovem, afirmou que o sobrinho vivia em Curitiba havia cerca de seis meses. O corpo dele foi sepultado nesta quinta-feira (25) em Tauá (CE), cidade situada a cerca de 3 mil km da capital paranaense.

Incluindo a morte de Francisco Eraldo, Curitiba registrou duas mortes por meningite meningocócica somente neste ano. Antes dele, um jovem de 27 anos também morreu vítima da doença. Segundo Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Curitiba, o paciente procurou atendimento hospitalar com queixas semelhantes às relatadas pelo cearense.
Segundo o diretor do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, Alcides Oliveira, as meningites bacterianas, como a que Francisco contraiu, são as que evoluem mais rapidamente e são mais agressivas. “São micro-organismos muito agressivos que causam uma intensa inflamação no sistema nervoso central. Essa inflamação dispara vários mecanismos de defesa, mas, como o organismo não consegue responder adequadamente, sofre uma brusca alteração. O coração, o fígado e os rins começam a ser comprometidos, resultando em um colapso dos órgãos”, explicou ele à Banda B.
A meningite — inflamação das meninges, as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal — se divide entre cinco principais tipos: viral, bacteriana, fúngica, parasitária e não infecciosa. Considerada uma doença endêmica, afeta mais os homens e principalmente os jovens.
O aumento no número de casos
O Brasil tem assistido a um aumento exponencial no número de casos confirmados da doença nos últimos anos. Enquanto o País teve 319 casos notificados em 2019, o ano seguinte foi marcado por uma explosão na quantidade de diagnósticos confirmados pelo Ministério da Saúde: foram 7.078 casos. No ano ado, de acordo com dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), o Brasil teve 16.437 casos de meningite. Neste ano, já foram contabilizados 4.526.
Dos 373 casos registrados no Paraná neste ano, pelo menos 83 deles foram em Curitiba. Os variados tipos de meningite já mataram nove pessoas na capital paranaense em 2024.
Para o diretor do Centro de Epidemiologia da Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba, Alcides Oliveira, o aumento no número de casos da doença nos últimos tempos no País se deve a um efeito que ele chamou de “pós-pandemia”.
“Essa detecção maior das meningites é muito fruto do efeito pós-pandemia. Nós tivemos três ou quatro anos de pandemia, em que o predomínio dos micro-organismos circulantes foi quase que exclusivamente da Covid, que dominou as doenças infecciosas. Com essa queda da circulação da Covid, fruto muito da vacinação, a gente observa a recorrência de outros micro-organismos que estão no nosso meio reaparecendo com uma certa intensidade”, afirma o especialista.
Apesar disso, diz ele, o comportamento humano segue influenciando no aumento de diagnósticos nos últimos tempos, como as aglomerações e as especificidades do clima. O inverno pode afetar a propagação da doença, principalmente a viral e bacteriana, já que a estação provoca maior incidência de infecções respiratórias e tende a levar as pessoas a se manterem em ambientes mais fechados e sem ventilação.
De acordo com Alcides Oliveira, o sintomas costumam aparecer unidos à febre, dor de cabeça, dor abdominal, vômitos e a rigidez da nuca — o que impede o paciente de encostar o queixo no peito e flexionar o pescoço. A meningite também pode provocar manchas com tons de vermelho e roxo pelo corpo.
Mas quando se deve procurar por atendimento hospitalar? De acordo com o diretor do Centro de Epidemiologia da SMS, o quadro de febre alta, a presença de uma dor de cabeça “inexplicável” e a dificuldade em movimentar o pescoço devem ser os principais sinais de que você precisa ir até um hospital. “Evite se automedicar e procure um serviço de saúde. Às vezes, as pessoas atribuem as manchas no corpo a picadas de insetos ou acham que bateram em algum lugar, mas elas são um sinal de gravidade”, explica.
Saiba mais sobre a meningite
🩺 Quais são os principais sintomas:
- Meningite viral: febre, dor de cabeça, rigidez no pescoço e mal-estar geral;
- Meningite bacteriana: febre alta, dor de cabeça intensa, rigidez no pescoço, náuseas, vômitos, e, em casos graves, alterações no estado mental e erupção cutânea;
- Meningite fúngica: febre, dor de cabeça, rigidez no pescoço e sintomas neurológicos;
- Meningite parasitária: podem variar dependendo do parasita, mas frequentemente incluem febre, dor de cabeça, rigidez no pescoço e outros sinais neurológicos;
- Meningite não infecciosa: sintomas podem ser semelhantes aos de outras formas de meningite, mas a causa é não infecciosa.
👨🏽⚕️ Como é feito o diagnóstico?
- Coleta de amostras de sangue e líquido cefalorraquidiano (líquor).
💉 Como é o tratamento?
- Ao se suspeitar de um caso, procure por um pronto-socorro para avaliação médica com urgência;
- O tratamento das meningites bacterianas é feito com base em antibióticos;
- Em relação às meningites virais, na maioria dos casos, não se faz tratamento com medicamentos antivirais. Em geral, os pacientes são internados para que os sinais da doença sejam monitorados.
- Nas meningites fúngicas, o tratamento é mais longo, com altas e prolongadas dosagens de medicação antifúngica;
- Nas meningites por parasitas, tanto o medicamento contra a infecção como as medicações para alívio dos sintomas são istrados por equipe médica em paciente internado.
⚠️ Quais são os fatores de risco?
- A resposta ao tratamento depende da imunidade da pessoa. Segundo o Ministério da Saúde, pacientes com história de HIV/AIDS, diabetes, câncer e outras doenças imunodepressoras são tratados com maior rigor e cuidado pela equipe médica.
🏥 Como se prevenir?
A meningite é uma síndrome que pode ser causada por diferentes agentes infecciosos. Para alguns destes, existem medidas de prevenção primária, tais como vacinas e quimioprofilaxia. As vacinas estão disponíveis para prevenção das principais causas de meningite bacteriana.
As vacinas disponíveis no calendário de vacinação da criança do Programa Nacional de Imunização (PNI) são:
- Vacina meningocócica C (Conjugada): protege contra a doença meningocócica causada pelo sorogrupo C;
- Vacina pneumocócica 10-valente (conjugada): protege contra as doenças invasivas causadas pelo Streptococcus pneumoniae, incluindo meningite;
- Pentavalente: protege contra as doenças invasivas causadas pelo Haemophilus influenzae sorotipo B, como meningite, e também contra a difteria, tétano, coqueluche e hepatite B;
- Meningocócica C (Conjugada): protege contra a doença meningocócica causada pelo sorogrupo C;
- Meningocócica ACWY (Conjugada): protege contra a doença meningocócica causada pelos sorogrupos A,C,W e Y.
Outras formas de prevenção:
Higiene: lave as mãos frequentemente e evite compartilhar utensílios pessoais, pois isso pode ajudar a reduzir a transmissão de patógenos;
Ambientes ventilados: garanta que ambientes fechados estejam bem ventilados, o que pode ajudar a reduzir a propagação de infecções.