Numa era de consumo rápido e descarte constante, duas iniciativas nascidas em Curitiba evidenciam que a engenhosidade e a visão empreendedora podem mudar cenários — tanto ambientais, quanto financeiros. O “Caçamba do Bem” e o “Robozin” surgiram de vivências pessoais e problemas concretos, e hoje representam soluções sustentáveis e inteligentes para desafios do dia a dia, unindo objetivo, tecnologia e impacto social.

Desde 2018, a designer de interiores Marília Bender Almeida comanda sozinha o “Caçamba do Bem”, um projeto que dá um novo significado a materiais descartados em obras e reformas. O que antes iria para as ruas ou aterros agora recebe novas utilidades — e até novos proprietários.
Em sete anos, a iniciativa já recuperou cerca de 7 mil itens, que am por um processo de seleção, restauração e, em muitos casos, reinvenção criativa.
“Percebi que muitos materiais que sobravam de obras podiam ser reutilizados. Desde então, conduzo o projeto sozinha, estabeleço metas e creio que o impacto vai além do resgate dos materiais. É uma cadeia. Quando não posso receber algo, tento direcionar para quem possa, ampliando o impacto”
explica Marília Almeida, criadora do Caçamba do Bem.
O projeto se baseia na economia circular, na diminuição de resíduos e na democratização do o a itens de decoração e construção. Parte dos itens vai para um bazar com preços íveis, e outra é doada para entidades e projetos sociais da capital.
“Esse trabalho de ponte que a gente faz acaba salvando milhares de resíduos que iriam para o lixo e também sendo oportunidade para várias pessoas. Cada vez mais temos que evoluir como comunidade para tentar conectar as pessoas”
comenta Marília.
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Ao longo dos anos à frente do Caçamba do Bem, Marília disse perceber que, aos poucos, a economia circular é compreendida pelas pessoas.
“Eu vejo que a economia circular vem crescendo a cada dia. Na parte da construção civil, ela ainda está engatinhando. Nós nos acostumamos por muito tempo a jogar tudo o que não precisávamos fora, e cada vez mais está mais claro que aquilo que não serve pra mim pode servir pro outro. Então, é uma tendência de mercado expandir essa economia circular”

O projeto vem conquistando cada vez mais clientes e contribuído para que as peças não acabem no lixo, por exemplo. No caso da publicitária Letícia Nauffal, que trabalha com retrofit de imóveis, os “achados” no Caçamba do Bem ajudam a manter viva a história.
“É uma preocupação nossa também, porque quando a gente compra um imóvel a gente também entende que lá tem história e materiais que podem ser úteis para outras pessoas. Então, também existe a nossa preocupação de não gerar tanto resíduo com as obras”
comenta a publicitária Letícia Nauffal.
Cliente assídua do projeto e frequentadora dos bazares, Letícia revelou que a casa dela poderia servir de claro exemplo da tão falada economia circular: até um quadro achado no Caçamba do Bem compõe a decoração.
“Não é nem uma questão financeira, é mais uma questão de circular esse material que muitas vezes não é útil pra gente, mas vai ser bom para outras pessoas”
reflete Letícia.

Conectando quem precisa, com quem realiza
Enquanto o “Caçamba do Bem” reutiliza o que foi descartado, o “Robozin” auxilia na conexão entre pessoas, para que soluções cheguem onde são necessárias. Criado pelos empreendedores Anderson Nery e Luis Matias, o “Robozin” é um assistente virtual gratuito, que opera diretamente no WhatsApp e conecta quem precisa de um serviço — de eletricistas a eadores de cães — a profissionais autônomos confiáveis.
A ideia surgiu após Anderson ar por uma reforma e ter dificuldades em achar prestadores, além dos altos custos embutidos nas plataformas. A solução: um sistema simples, rápido e sem taxas, que hoje já conta com mais de 1.500 profissionais cadastrados em Curitiba, divididos em mais de 100 categorias.
“Criamos o Robozin para transformar a forma como os clientes contratam serviços, investindo em tecnologia de gestão inteligente que facilita tanto para quem oferece quanto para quem contrata”
ressalta Anderson.

Além de simplificar a contratação, o “Robozin” também gera renda extra para os profissionais, oferecendo ferramentas como emissão de orçamentos, recibos e cobranças via PIX, tudo pelo WhatsApp. Uma das novidades mais úteis é a ferramenta automática de cotação para condomínios, que organiza e compara propostas para reformas ou manutenção predial.
A ideia é que o “Robozin” ofereça dos mais diversos tipos de serviços, mas principalmente aqueles que as pessoas costumam ter dificuldade em encontrar “um de confiança”, como encanador, eletricista, diarista. Mas entre os prestadores de serviço também estão fotógrafos e designers, por exemplo.
“É desafiador porque temos que conseguir entender como transformamos a vida das pessoas em algo mais simples”
destaca Anderson Nery.

No caso da vida de Carlos Alberto, marido de aluguel, a transformação veio rápido: ele viu o número de atendimentos aumentar depois que entrou para o “Robozin”.
“O Robozin aumentou a demanda dos clientes, então tem me ajudado bastante. A tecnologia que eles usam é de primeira, não há dificuldades de receber e conversar com o cliente”
diz Carlos Alberto.
Do outro lado, também: o jovem Yudi Henrique Gonçalves, que já usou a plataforma cinco vezes, conta que foi a melhor descoberta possível.
“Eu precisei de um encanador aqui em casa. A plataforma encontrou, nós conversamos e ele veio. Foi muito rápido e muito bom. Como o contato é simples e fácil, a gente acaba usando mais vezes mesmo”
comenta Yudi.
Segundo Anderson Nery, aos poucos o “Robozin” tem ganhado o país. Ele sabe que isso é um projeto ousado, mas necessário.
“Tem o frio na espinha de chegar em todos os mercados e validar tudo aquilo que testamos em Curitiba. Nós sabemos que a exigência do curitibano é muito maior do que qualquer outro lugar do Brasil, então é muito interessante ver esse movimento nos outros estados”
avalia um dos criadores do Robozin.

Inovação com propósito
Mesmo trilhando caminhos diferentes, tanto a Caçamba do Bem quanto o Robozin compartilham características marcantes: a inventividade, a capacidade de inovar e a vontade de fazer o bem.
Os dois projetos nasceram de um olhar atento — um voltado para o descarte excessivo de itens, o outro para a complexidade de achar bons funcionários — e viraram alternativas viáveis, fáceis de usar e que respeitam o meio ambiente.
Rodrigo Ribeiro Santos, consultor do Sebrae/PR, comenta que cada vez mais se faz importante pensar na economia circular.
“É uma ideia que vem ganhando cada vez mais força. A gente está acostumado com aquele modelo de usar e jogar fora, mas hoje com tantos desafios ambientais e sociais é fundamental pensar diferente. O projeto Caçamba do Bem mostra que muito do que vai pro lixo ainda tem valor e pode ser reaproveitado. Isso não só ajuda o meio ambiente, como também movimenta a economia local. Cria oportunidades e incentiva as pessoas a pensarem fora de suas próprias caixas”

Além de serem iniciativas empresariais, esses trabalhos provam que dá para empreender pensando no coletivo, e que a modernização pode — e precisa — ser usada para trazer benefícios para a sociedade, seja reaproveitando o que iria para o lixo ou juntando quem precisa de um serviço com quem pode prestá-lo.
“Os serviços de construção, limpeza e pequenos reparos são a base da economia de muitas famílias. Quando a tecnologia chega nesses segmentos, ela ajuda a valorizar, dar visibilidade e conectar de forma rápida quem precisa do serviço”
avalia Rodrigo Santos.
Em um período de mudanças no clima e problemas na economia, casos assim ressaltam o quanto é essencial ter novas ideias e construir sistemas que beneficiem a todos os envolvidos.
“O Sebrae tem um papel muito ativo nestes negócios. Nós ajudamos em consultorias, capacitações e até no dia a dia dessas empresas, sendo ponto importante para a manutenção dessas ideias”
conclui o consultor do Sebrae/PR.